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Gabo escreveu:
É ruim?
Renato Luiz escreveu:Já viu a versão com o Jim Caviezel?
Gabo escreveu:Renato Luiz escreveu:Já viu a versão com o Jim Caviezel?
É a de 2002 né? Vi comentários dizendo que ela fugia mais ainda do livro, por isso optei pela versão de 75.
Renato Luiz escreveu:
- Spoiler:
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O Irlandês: que filme senhores. Obviamente, pelo peso de diretor e de seu elenco lendário, por sua importância para o gênero dos filmes de máfia ao reuni-los, e por todo o contexto que envolveu sua realização, é daqueles que já nasce clássico. Pode-se dizer que é o último capítulo, ou ainda o epílogo, da saga dos grandes filmes de máfia, iniciada com o Poderoso Chefão, e provavelmente a despedida de Scorsese, Al Pacino, De Niro etc, do gênero. Não há mais nada a ser acrescentado por estes às narrativas cinematográficas do submundo dos gângsters, depois de carreiras tão brilhantes e que engrandeceram o cinema. Este filme, que retrata o final da vida dos grandes criminosos que sobreviveram e puderam envelhecer, reflete também sobre o ocaso da vida dos artistas envolvidos, já imortalizados em tantos papéis icônicos do gênero ao longo das décadas.
Tenho minhas ressalvas ao filme, mas pequenos defeitos são suplantados pelo resultado final: um história impactante, narrada com o talento insuperável de Scorsese, que entrega mais uma obra-prima.
- Spoiler:
Aqui, como eu imaginava, Scorsese não tenta repetir os feitos de Goodfellas e Cassino. Não é um filme estilizado e bombástico como seu antecessores, pelo contrário: o diretor agora está mais maduro e confortável para contar a história que deseja, sem precisar se preocupar em agradar ninguém. Este momento de consciência artística o permite colocar uma maior veracidade na narrativa, que transcende a ação e o excitamento do crime, e dialoga com temas bastante profundos, ao relatar não apenas o auge das ações dos malfeitores, mas sobretudo seu declínio. O personagem Frank Sheeran vê sua família se afastar dele, e acaba em um asilo, solitário, amargurado, sem ter a quem se agarrar. Vê a morte levar seu pares, seja violentamente, seja pela violência lenta e dolorosa do fenecimento, tendo ele próprio a morte em seus calcanhares. E pior que a morte física é a morte espiritual do vazio, e mais ainda, a morte da memória. Afinal de contas, os gângsteres sempre foram apenas bandidos, delinquentes tal como qualquer ladrãozinho, com a diferença que conseguiram algum prestígio e poder. No fim, o que os torna grandes é a lenda ao redor deles, e quando Sheeran vê que uma moça jovem não sabe quem foi Jimmy Hoffa, é aí que ele percebe que Hoffa realmente morreu, definitivamente, para além dos tiros que o fulminaram.
A morte de Hoffa, aliás, é o clímax, que vai sendo construído de modo muito lento, com uma tensão crescente que se mistura com um tom de humor. Nós sabemos qual vai ser o fim dele, só não sabemos como ou quando. E mesmo assim somos surpreendidos, quando o seu algoz é quem menos esperamos, o próprio amigo de Hoffa, Frank Sheeran. Sua ação fria, quase robótica, e covarde, nos atinge como se os disparos fossem contra nosso próprio coração. Não pela pessoa vitimada em si, mas por todo o contexto, que nos intriga. Como um ser humano pode agir de modo tão insensível?
A partir daí, o filme é como a cena final de O Poderoso Chefão III, (na qual um velho Michael, amargurado, morre), mas prolongada por quase meia hora.
Sheeran tenta se reconciliar com seu passado, mas suas filhas o rejeitam. Ele busca a Deus, pede perdão, mas não consegue se arrepender. Trata-se de um homem acostumado a matar sem refletir, um homem embrutecido pela guerra. Seu único arrependimento, o traço que o revela como ser humano e não uma mera máquina de matar, não foi de fato pelos assassinatos, nem mesmo o de seu amigo Jimmy Hoffa, mas sim a ligação para a esposa de Hoffa, momentos depois. A atuação de De Niro nessa cena é indescritível: um matador frio e calculista, capaz de aniquilar um amigo, não consegue encarar a viúva com a mesma frieza: o pesar e o remorso tomam conta dele, e seu falar vacilante, quase gaguejante, revelam a consternação que o acomete. É doloroso de se ver.
O filme todo é um auto-necrológio, à lá Brás-Cubas, de um homem à beira da morte refletindo sobre sua vida pregressa. E por mais que ele não "sinta" praticamente nada, nenhum arrependimento, ele sabe, no íntimo, que sua vida foi vazia. A última cena dialoga com o encerramento de O Poderoso Chefão: enquanto neste o fechar de uma porta simboliza o afastamento de Michael Corleone de sua humanidade, sacrificada no altar do poder, em O Irlandês, a porta permanece entreaberta, como se o idoso Sheeran, como uma criança com medo do escuro, quisesse permanecer conosco por mais um tempo, na esperança de que alguém, ou mesmo nós, os expectadores, pudessem resgatá-lo da espiral de maldade que foi sua vida.
Mas não é possível: a vida é uma só, e não há como voltar atrás.
» » Pessoal, devido a minha tamanha falta de criatividade nesse dia, eu pergunto, qual foi o último filme que vocês assistiram!?
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