Apesar de vendido como filme de horror, Os olhos de Júlia é um suspense com bons sustos. Imagine-se cego, meu caro leitor, e escutando passos dentro da sua casa. Tente fugir, mesmo não lembrando qual o caminho da porta. O filme é temperado com uma angústia e uma sensação de desespero, que pouco tenho visto recentemente. A direção de Morales explora novamente a presença do desconhecido dentro de casa. Escolha essa que traz um impacto diferenciado ao espectador, afinal, a história narrada no filme tem toda a possibilidade de vir acontecer. Isso amedronta mais que filmes de fantasmas, monstros ou vampiros. É um temor que você leva para cama após assistir, o que convenhamos, é delicioso.
Devo acrescentar que durante todo o tempo eu me debatia se havia algo sobrenatural, real ou se não passava de nossa pobre Júlia agoniando.
O filme conta com um trunfo, tornando-o superior ao filme anterior do diretor, El Habitante Incierto, a atuação sensacional de Belén Rueda, conhecida pelos filmes O Orfanato e Mar Adentro. Grande parte da participação e afinidade do espectador com a personagem dá-se na maneira com que o ator ou atriz a conduz. O trabalho de Rueda faz com que não deixemos Júlia um minuto se quer, sem a nossa devoção e preocupação. É preciso louvar também o belíssimo roteiro que nos leva com ritmo e fluidez pela trama, chegando há momentos em que exclamei: Vixe, agora fudeu de vez!!!
É quase como se nós fossemos a própria Júlia e essa conecção é bem feita com a câmera as vezes se desfocando mostrando a própria visão dela ruindo fazendo-nos sentir como nós mesmos.
Peço que prestem a atenção, no terceiro ato, como o diretor Guillem Morales trabalha com a câmera sem focalizar a face de determinadas personagens, apenas a de Julia. Esse recurso só será abandonado mais tarde, revelando o que Júlia e os espectadores passaram o filme inteiro procurando. Diante de obras como essa retoma-se o debate de que há muito o que se vê no cinema mundial, mas poucos parecem estar enxergando. Talvez estejamos cegos também. Então é hora de voltarmos a sentir, ou seja, assista Os Olhos de Julia.
Qual seria pior, estar cego e alheio ao mudo, estar cego pelo medo ou cego pela falta de informações? Essas cegueiras são fatais.
* Quotes retirados de:
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