Agricultores que compram sementes transgênicas da Monsanto são proibidos de guardar parte da colheita para replantio dessas sementes. Para garantir que isso não ocorra, a empresa mantém uma polícia genética, que investiga denúncias de "casos suspeitos", inspecionando fazendas (com ou sem permissão dos proprietários), para coletar amostras de plantas e sementes. No Canadá e nos Estados Unidos, mesmo os agricultores que jamais compraram sementes da Monsanto têm sido investigados por essa "polícia genética", e vários desses agricultores foram processados, já que a "polícia genética" da Monsanto consegue entrar em suas propriedades, em busca de provas do uso não autorizado de sementes patenteadas pela empresa. O caso do agricultor Percy Schmeiser, de Saskatchewan, Canadá, é exemplar. Ele plantava canola e utilizava sementes que não eram de propriedade da Monsanto. Seus vizinhos, porém, cultivavam canola transgênica, e o pólen dessas plantas voou para o plantio de Schmeiser. Segundo ele, suas terras foram invadidas pelas sementes transgênicas. A "polícia genética" da Monsanto recebeu uma denúncia (graças a um sistema do tipo disque-denúncia que encoraja a delação entre fazendeiros vizinhos) e seus investigadores conseguiram (sem permissão) colher amostras das plantas da fazenda de Schmeiser. Posteriormente, foi constatado que algumas dessas plantas haviam sido produzidas com sementes de Roundup Ready Canola. Assim, em 1998, a Monsanto entrou com uma ação judicial contra Schmeiser, alegando que ele utilizara ilegalmente as sementes patenteadas, pretendendo receber todo o lucro que o produtor obtivera com a sua produção. Em primeira instância, a justiça do Canadá decidiu que Schmeiser teria mesmo de indenizar Monsanto. Schmeiser recorreu, e o caso se transformou em uma batalha judicial. Finalmente, em 21 de maio de 2004, a Suprema Corte do Canadá decidiu a favor da Monsanto, por 5 votos a 4. Mas Schmeiser obteve uma vitória parcial, pois não teve que entregar à Monsanto todos os lucros que obtivera desde a safra 1998, conforme a empresa pretendia. Isto porque, segundo a Corte, a presença de plantas geneticamente modificadas em sua plantação não lhe proporcionara qualquer vantagem. Enfim, ele não havia obtido lucros atribuíveis à invenção da Monsanto. De fato, o montante dos lucros em jogo era relativamente pequeno (menos de 20.000 dólares); no entanto, como não teve que indenizar a Monsanto, Schmeiser livrou-se também de ter que pagar as custas processuais, que chegaram a centenas de milhares de dólares.